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Avaliação neuropsicológica. Funções verbais e funções executivas

idosa (Larner, 2007). Por fim, o MoCA avalia os domínios da função executiva, capacidade visuo-espacial, memória, atenção, concentração/memória de trabalho, linguagem, orientação temporal e espacial (Simões et al, 2008).

Reflexão crítica

A neuropsicologia, enquanto ciência que estuda a relação cérebro-comportamento e as alterações cognitivas e comportamentais derivadas de lesões cerebrais, divide-se em dois ramos: avaliação e reabilitação neuropsicológica (Hamdan, Pereira & Riechi, 2011). Ao agregar conhecimentos das neurociências e da psicologia, a avaliação neuropsicológica debruça-se especialmente sobre as funções cognitivas, como é o caso da linguagem e das funções executivas, previamente abordadas neste trabalho. Neste sentido, embora se verifiquem muitos progressos tecnológicos a nível da neurorradiologia, Siksou (2008) refere que a avaliação neuropsicológica continua a ter um papel importante quando se trata de elaborar diagnósticos diferenciais ou avaliar perturbações residuais.

No que concerne à linguagem, e dada a sua relação com as dimensões biológica, cognitiva e social dos indivíduos, é expectável uma grande complexidade e diversidade de perturbações da linguagem, que pode adquirir diversos graus de gravidade, o que em termos de avaliação neuropsicológica torna-se um desafio (Santos, 2013).

Sbordone (2000) alerta no caso da avaliação das funções executivas que esta não pode ser realizada adequadamente apenas com base em testes neuropsicológicos estandardizados, uma vez que as funções executivas são complexas e variáveis, não sendo facilmente categorizáveis ou quantificáveis. Para além disso, Hamdan & Pereira (2009) sublinham a dificuldade na própria conceptualização das funções executivas, o que leva a uma dificuldade acrescida no momento de avaliação. Como tal, o défice nas funções executivas implica um ou mais elementos das mesmas, por exemplo nas crianças inclui um pobre controlo de impulsos, dificuldades em monitorizar ou regular o comportamento, problemas no planeamento e organização, dificuldades na criação e/ou implementação de estratégias, perseveração e inflexibilidade mental, memória de trabalho reduzida e pobre utilização do feedback (Anderson, 2002).

Simões (2005) aponta algumas limitações dos instrumentos de avaliação na descrição ou explicação exata da realidade dos indivíduos (difícil ou até mesmo impossível dadas as idiossincrasias de cada indivíduo e a própria envolvente contextual), embora sejam importantes e decisivos para a tomada de decisão terapêutica. Assim, uma ideia fundamental a retirar da avaliação neuropsicológica é que a recolha de informação deve sempre ser efetuada com base no pluralismo metodológico, pois quanto mais diversificadas forem as fontes, maior sustentação terão as inferências que o neuropsicólogo tem de elaborar, optando por uma avaliação mais ajustada ao indivíduo, e, consequentemente, maior será a probabilidade da eficácia da intervenção. Inclusivamente, tal como mencionam Winograd, Jesus e Uehara (2012), uma avaliação qualitativa é tão importante como a quantitativa, que é fornecida pelos instrumentos neuropsicológicos, visto que existe uma panóplia de variáveis que possam estar a interferir no desempenho do indivíduo, a qual só poderá ser acedida e trabalhada se forem agregados estes dois tipos de avaliação.

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