Inicio > Psicología > Neurociências, Psicofisiologia e Actividade Humana > Página 3

Neurociências, Psicofisiologia e Actividade Humana

Hebb defende que a sua teoria é evidentemente uma forma de coneccionismo, embora se centre numa rede intrincada de relações cerebrais variáveis, e não num modelo simplista e mecanicista de conexões de vias aferentes e eferentes: ou seja, como é referido por vários autores e pelo próprio Hebb, sustentariam uma psicologia diferente da defendida inicialmente pela forma estímulo-resposta, principalmente se a resposta aqui indicada for uma resposta motora (Sejnowski, 1999).

Quanto à importância da motricidade para o desenvolvimento sensório-perceptivo e cognitivo da criança, sabe-se que nestes momentos críticos de desenvolvimento maturacional cerebral, vários estudos apresentam a importância de estruturas fundamentais para a orientação espacial, tendo-se demonstrado ao longo dos últimos anos a existência de células nervosas específicas para a capacidade de orientação espacial e de memorização e aprendizagem espacial (ver estudos de Brunel & Trullier 2001 e de Foster, Morris & Dayan, 2000, acerca das células do hipocampo para a as denominadas células de orientação e memorização espacial).

No que se refere às funções da actividade muscular, já desde a primeira metade do Século XX que o conhecimento acerca de como um impulso eléctrico passa do sistema nervoso para o sistema muscular, produzindo a contracção dos músculos é bem conhecida, sendo descrita por autores (Fatt & Kratz, 1951; Eccles, 1948) como um processo que envolve vários passos: impulso nervoso – acetilcolina — potencial de placa motora — contracção muscular. Ao contrário do que possa ser esperado intuitivamente, a libertação de ACh não se dá apenas quando um impulso nervoso chega ao terminal pré-sináptico. Já desde a década de 70 do Séc. passado é bem descrito o fenómeno de mini-potenciais de placa motora produzidos pela libertação de quantidades minúsculas de Ach (ao nível dos quanta), produzindo o que alguns autores caracterizam como “ruído de activação motora” (Katz & Miledi, 1970). Através deste fenómeno, de cada vez que um potencial de acção chega ao terminal sináptico e leva à libertação do neurotransmissor  Ach, a placa motora já está, muitas vezes, num estado de pré-excitação, potenciando no tempo e no espaço um potencial de placa, a exemplo do que acontece com os PEPS (potencial excitatório pós-sináptico) e PIPS (potencial inibitório pós-sináptico) ao nível dos neurónios do sistema nervoso central (Katz & Miledi, 1972).

Bibliografia

Adolphs, R., ,Tranel, D., Damasio, H. & Damasio, A.R. (1995). Fear and the human amygdala. Journal of Neuroscience. 15, 5879-5891.

Bakin, J.B., Lepan, B. & Weinberger, N.M. (1992). Sensitization induced receptive  field plasticity in the auditory cortex is independent of CS-modality. Brain Research. 577, 226-235.

Brunel, N. & Trullier, O. (2001). Plasticity of directional places in a model of rodent ca3. Hippocampus. 8, 651-665.

Cacioppo, J., Tassinary, L.G. & Berntswon, G. (2007). Handbook of Psychophysiology. 3rd Edition. ISBN-13: 9780521844710. New York: Cambridge University Press.

Chernyshev, B.V & Weinberger, N.M. (1998). Acoustic frequency tuning of neurons in the basal forebrain of the waking guinea pig  – Research report. Brain Research. 793, 79-94.

Dawson, M.E. (1999). Psychophysiology  at  the  interface of  clinical  science,  cognitive  science, and neuroscience. Psychophysiology. 27, 243-255.

Eccles, J.C. (1948). Ann Review of Physiology. 10, 93.

Fatt, P. & Katz, B. (1951). An analysis of the end-plate potential recorded with na intra-cellular electrode. Journal of Physiology. 115, 320-370.

Foster, D.J., Morris, R.G.M. & Dayan, P. (2000). A model of hippocampally dependent navigation, using the temporal difference learning rule. Hippocampus. 10, 1-16.

Hebb, D.O. (1949). Organization of behavior: a neuropsychological theory. Wiley.

Katz, B. & Miledi, R. (1970). Membrane Noise produce by Acetylcholine. Nature. 26 (6 June, 5249), 962-963.

Katz, B. & Miledi, R. (1972). The statistical nature of the acetylcholine potential and its molecular components. Journal of Physiology. 224, 665-669.

Lipp. M.E.N., Frare, A. & Santos, F.U. (2007). Psychological effects on the cardiovascular  reactivity of stressful moments. Estudos de Psicologia.  Campinas. 24(Abril-Junho, 2), 161-167.

Miller, J. (1978). The Body in Question. New York: Random House.

Nicolelis, M.A.L., Fanselow, N.E.E. & Ghazanfar, A.A. (1997). Hebbs Dream: The Resurgence of Cell Assemblies. Neuron.19 (August),219-221.

Sejnowski, T.J.  (1999). The Book of Hebb. Neuron. 24 (December), 773-776.

Sherrington, C.S. (1906). The Integrative Action of the Nervous System. (NewHaven, CT: Yale University Press).

Siddle, D.A.T. (1991). Psychophysiology. 28, 245-250.

Sokolov, E.N. (1963). Perception and the Conditional Reflex. Oxford: Pergamon Press.

Weinberger, N.M. & Diamond, D.M. (1987). Physiological plasticity of single neurons in auditory cortex: Rapid induction by learning. Prog. Neurobiololgy. 29, 1-55.

Young, T. (1802). Philos. Trans. R. Soc. Lond. 92, 1248.