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Neuropsicologia: enquadramento da disciplina e suas contribuições para a Doença de Alzheimer

e da aprendizagem nas bases neurofuncionais;

5) o estudo das representações internas dos fenómenos mentais;

6) a terapêutica racional e fisiopatológica e

7) a reabilitação e realização de planos de investigação (Bartolomé, Fernandez & Ajamil, 2001). Assim, a Neuropsicologia, ao estudar indivíduos com lesões ou disfunções cerebrais poderá auxiliar na compreensão de como a mente humana funciona, contribuindo tanto para o

desenvolvimento teórico, quanto para o delineamento de procedimentos de reabilitação

(Fernandes, 2003).

As contribuições da Neuropsicologia assumem um carácter transversal, pois não se resumem, apenas, aos campos de aplicação clínicos; estendem-se a outras áreas como a Educação, a Gerontologia ou, ainda, ao campo das ciências experimentais, as Neurociências (Zillmer, Spiers & Culberstone, 2007).

1. Enquadramento Epistemológico da Neuropsicologia

O termo Neuropsicologia foi, primeiramente, citado por Sir William Osler, em 1913, numa conferência nos Estados Unidos. No entanto, este termo apenas foi reconhecido e foi iniciada a sua difusão a partir da publicação de Donald Hebb, em 1949, assim como através da publicação periódica do jornal Neuropsychology, em 1963 (Kristensen, Almeida & Gomes, 2001).

A Neuropsicologia, como área científica sólida, tem um desenvolvimento bastante recente, apesar de as suas origens remontarem à Antiguidade, com os primeiros estudos cerebrais dos quais existem registos, originários da Suméria, e cuja fundamentação e afirmação científica é fruto de várias décadas de estudos e investigações (Semple, Smyth & Burns, 2005).

Em termos práticos, a Neuropsicologia nasce a partir de duas grandes áreas, a Psicologia e a Neurologia. Todavia, o seu enquadramento geral envolve de uma forma mais específica uma enorme variedade de disciplinas e subdisciplinas. A Psicologia, uma das principais áreas que permitiu a sua criação, contribui de uma forma bastante significativa, nomeadamente, ao nível da Psicologia Cognitiva, da Psicologia Comportamental, Psicologia Experimental, da Psicologia Diferencial, das Psicopatologias e do Diagnóstico Psicológico. Por outro lado, as Ciências Biomédicas têm também um papel primordial, englobando, estas, diferenciados campos de estudo de grande importância para o desenvolvimento da ciência em questão. A Medicina merece também destaque, principalmente ao nível da Neurologia, da Neuroanatomia e da Neurofisiologia. Poder-se-ão ainda destacar disciplinas como a Embriologia, a Física, a Farmacologia, bem como a Biologia Celular ou a Química (Bartolomé et al., 2001).

É importante focar, portanto, alguns dados históricos que ofereceram contributo para o desenvolvimento desta ciência. Os primeiros estudos datam, sensivelmente, de 4000 anos a.C., com registos escritos da civilização Suméria sobre os efeitos eufóricos e alucinogénios da papoila. Porém, considera-se que tudo teve início com Pitágoras, quando este afirmou que ‘a razão humana reside no cèrebro’; outros autores defendem, ainda, que foi Galeno (130-200 d.C), um médico que viveu durante o Império Romano, que defendia que a mente estava localizada no cérebro, refutando, desta forma, a teoria de Aristóteles (Semple, Smyth & Burns, 2005). A verdade é que, independentemente do que é defendido ou da ordem cronológica dos factos, o Homem desde sempre procurou descobrir mais acerca da mente, do cérebro e do comportamento humano, assim como da relação entre esta tríade.

Tudo remonta a eras ancestrais, quando se fazia uso da chamada Trepanação; esta consistia na remoção cirúrgica de uma porção do osso craniano, criando-se uma abertura no mesmo, de forma a aliviar a pressão derivada de um inchaço cerebral. Contudo, os motivos desta cirurgia não são totalmente claros, pois, muitos afirmam que tinha um propósito meramente médico, outros sugerem que tinha como base rituais, como forma de tratamento para ‘comportamentos bizarros’, aquilo a que hoje chamamos de esquizofrenia ou a epilepsia (Zillmer, Spiers & Culberstone, 2007).

Ainda segundo Zillmer et al. (2007), sabe-se que na Grécia Antiga se encontraram os primeiros registos escritos da relação entre mente – comportamento. O filósofo grego Heráclito (séc. VI a.C.) defendia que a mente era um espaço de enormes dimensões, cujos limites seriam inatingíveis ao Homem. Por seu turno, Pitágoras (580 – 500 a.C.) tornou-se o primeiro a apontar o cérebro como o centro da racionalidade humana, tendo também um papel crucial ao nível da alma (Zillmer et al., 2007).

É igualmente importante mencionar as contribuições dos filósofos Hipócrates (460 – 377 a.C.) e Platão (420 – 347 a.C.): o primeiro pelo facto de reconhecer que o prazer ou a dor provinham do cérebro; relativamente ao segundo, muitos historiadores acreditam que este foi o primeiro a propor o conceito de ‘saöde mental’, dado que defendia a ‘saöde como a harmonia entre mente e corpo’. Todavia, nem todos os antigos filósofos creditavam o cérebro como fonte de emoções e como estando, directamente, relacionado com o comportamento do Homem. Aristóteles (384 – 322 a.C.), por exemplo, acreditava ser o coração o órgão responsável pelas emoções e sentimentos, criando, então, o que chamou de “Hipótese Cardíaca” (Zillmer et al., 2007).

De acordo com Maia, Correia, & Leite (2007), supunha-se que faculdades como as sensações, cognições ou a memória habitassem nos ventrículos cerebrais. Reinava, portanto, a Teoria Ventricular. Segundo Pevsner (2002), da Vinci interessou-se pelos estudos de Galeno – médico do Império Romano e precursor desta teoria – e leu parte dos seus ensaios, decidindo adaptá-los aos seus próprios estudos. Entre as muitas contribuições deste artista, destacam-se as experiências sobre o sistema nervoso central, ao nível das suas estruturas anatómicas. Ao nível ventricular, é de salientar as suas experiências com a injecção de cera derretida nos ventrículos de bovinos, fornecendo assim uma melhor compreensão acerca destas estruturas. Contudo, foi Andreas Vesalius (1514 – 1564) quem ousou realizar as primeiras correcções no modelo proposto por Galeno, nomeadamente, ao nível do papel dos ventrículos, no que diz respeito ao comportamento. As suas ilustrações, através de extrema precisão, contribuíram também para um melhor entendimento da anatomia cerebral (Zillmer et al., 2007).

René Descartes (1596 – 1650) veio marcar a era pós-renascentista, propondo uma divisão entre mente e corpo. Descartes via o corpo, em termos funcionais, semelhante a uma máquina, e a mente como aquilo que decidia como a máquina se iria comportar, criando assim uma teoria dualista que ia contra aquilo que muitos outros