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A Neuropsicologia e o comportamento desviante

referem que várias áreas podem estar implicadas na regulação da tonalidade emocional de mecanismos de recompensa e prazer nos humanos: região septal, cabeça do núcleo caudado, porção ventro-medial dos lobos frontais, região antero-inferior do cíngulo e substância branca à volta do joelho do corpo caloso (é neste conhecimento que se baseia a leucotomia pré-frontal para tratamento de casos graves de toxicodependentes, utilizada em alguns países de leste europeu; a lesão destes centros de recompensa leva a que a sensação de prazer que se segue à administração de substâncias psicotrópicas deixe de se fazer sentir, reduzindo assim o comportamento de abuso das substâncias, por falta de rewarding).

Particularmente no que respeita ao comportamento anti-social, e de uma forma abrangente, Robinson & Kelley (1998) apresentam-nos uma vasta revisão, acerca de um conjunto de factores que têm sido relacionados com disfunção cerebral. Por motivo de economia de espaço, apresentaremos uma breve esquematização dos vários autores e estudos citados por Robinson & Kelley (1998).

a) traumatismo craneano

Kelley (1997), num estudo com jovens violentos em regime de internamento num centro de tratamento, demonstrou que, daqueles jovens onde houve indicação para avaliação neuropsicológica, em 60% dos casos havia história de traumatismo craneano.

b) Ofensas sexuais e físicas

Os traumatismos craneanos podem ser causados por variadíssimas fontes, incluindo abuso físico e sexual (Robinson & Kelley, 1998).

Robinson & Kelley, 1998: Mesmo quando variáveis como idade, sexo e raça são controlados, os grupos de crianças alvo de abuso sexual e ofensas corporais tendem a mostrar maiores níveis de criminalidade em adultos.

Kelley, 1997: 100% dos jovens violentos que participaram num estudo e em que foi necessário proceder a uma avaliação neuropsicológica completa apresentavam história de abuso sexual e físico por parte dos pais ou familiares.

Widom, 1989: o estudo da relação entre abuso sexual e ofensas físicas na infância e o comportamento criminal na idade adulta sugerem que crianças abusadas e negligenciadas tendem a cometer mais crimes do que crianças de grupos controlos; quando controladas prospectiva e retrospectivamente.

c) O papel da dieta

Cada célula do corpo humano fabrica materiais necessários ao funcionamento normal, em que as substâncias ingeridas pela alimentação são transformadas em outros químicos necessários ao organismo (Robinson & Kelley, 1998). As células nervosas apresentam aqui um funcionamento similar, em que a síntese de neurotransmissores é feita a partir de moléculas que alcançam a corrente sanguínea a partir da alimentação. Em circunstâncias normais a alimentação assegura o normal funcionamento cerebral através da síntese de neurotransmissores, mas se os níveis de nutrientes (mais especificamente os precursores de neurotransmissores) se alteram para níveis elevados ou insuficientes, isso será o suficiente para produzir alterações na síntese de neurotransmissores (Wurtman, 1982, 1983; Wurtman et al., 1981), nomeadamente a recaptação da serotonina, alterando assim a resposta do organismo ao meio, podendo especificamente estar na base de comportamentos anti-sociais (ver Fishbein & Pease, 1998, para uma extensa revisão do efeito da dieta no comportamento humano).

Hipoglicémia: vários estudos tem associado a hipoglicémia ao comportamento agressivo

Marks, 1981: Quando os níveis de açúcar no sangue descem abaixo de 80mg, pânico, irritabilidade, nervosismo e agressão tem uma maior susceptibilidade para ocorrer.

Davies, 1982: num estudo levado a cabo por Davies, verificou-se que a hipoglicémia podia ocorrer mesmo duas a quatros horas depois da toma de uma refeição (podendo ser exacerbada por drogas e álcool). No estudo referido, os sintomas de hipoglicémia em estabelecimentos prisionais concentram-se por volta das 11:00 e 11:30 horas, o que corresponde ao período de maior número de agressões ao pessoal prisional e outros reclusos.

Os estudos neste campo permitiram hipotetisar que a dieta poderia ter uma papel central na determinação do comportamento criminal. Por exemplo, é sabido que os alimentos ricos em carbohidratos podem causar fortes flutuações nos níveis de glucose no sangue (Robinson & Kelley, 1998), e desta forma ter um papel a considerar nas alterações do comportamento. Os carbo-hidratos são rapidamente absorvidos pelo organismo, podendo induzir o acréscimo marcado de glucose na corrente sanguínea. Isto leva à produção de insulina com o objectivo de eliminar a glucose em excesso (Robinson & Kelley, 1998). Através de uma dieta onde se reduza os níveis de açúcar e aumente a quantidade de fibras pode-se regular os níveis de glucose no sangue (Harber et al. 1977).

Desta feita, a manipulação da dieta alimentar pode produzir alterações comportamentais anti-sociais claramente monitorizadas e controladas.

Schoenthaler, 1982: num estudo com jovens delinquentes de 12 a 18 anos de idade, avaliados num período de dois anos, demonstrou que uma redução planificada de carbohidratos refinados na dieta alimentar provocou uma redução em cerca de 48% nas ofensas disciplinares perpetradas por esses mesmos jovens.

Fishbein & Tatcher, 1982: demonstraram que depois de um mês com uma dieta livre de carbo-hidratos refinados, verificaram melhorias em sintomas como paranóia e depressão, numa amostra de prisioneiros que tinham tendência para estados de hipoglicémia.

d) Substâncias externas ao organismo, presentes no ambiente:

Vários autores sugerem que a exposição dos sujeitos a neurotoxinas pode causar alterações neurológicas disfuncionais (vêr Robinson & Kelley, 1998, para uma abordagem mais aprofundada).

Loeber, 1990; Rutter & Giller, 1983: níveis de chumbo no ambiente envolvente ao sujeito estão relacionados com déficits cognitivos, de aprendizagem e da atenção.

Needleman e colaboradores (1979, 1990, 1990): demonstraram que crianças expostas a concentrações elevadas de chumbo apresentavam QI mais reduzidos, maior incidência de comportamento problemático na sala de aula, menor índice de performance