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O espelho por trás da dança movimento terapia

os rodeiam (Pylvänäinen, 2010).

Ao contrário da comunicação verbal, os aspetos físicos e corporais não estão submetidos a processos intelectuais. Sendo o foco principal do trabalho terapêutico a utilização da comunicação não-verbal por meio do movimento do corpo, tal enfatiza os processos psicológicos do mesmo (Rust-D’Eye, 2013). Por seu turno, a linguagem é utilizada com cuidado pelos terapeutas da DMT com o propósito de clarificar o processo de grupo e a sua utilização por parte dos clientes é incentivada perante determinadas circunstâncias para facilitar a interligação das informações outrora inconscientes.

Este destaque dado ao movimento do corpo fortalece o que a orientação psicodinâmica postula: movimento como única forma direta de viabilizar o acesso às emoções da pessoa e tornar consciente o que se encontra latente, com o sentido de a auxiliar a entender quais as emoções que possam estar relacionadas com o seu estado de saúde atual (Cigaran, 2009; Santana, 2009). Devido à importância dada ao envolvimento relacional entre os corpos e movimento do cliente e terapeuta na DMT, o toque surge também como um elemento fundamental para o sucesso da terapia. Contudo, ainda não existem diretrizes éticas para a sua aplicação, não existindo assim uma identificação formal dos seus efeitos (Popa & Best, 2010).

PROVA EMPÍRICA DOS EFEITOS DA DMT

No mundo inteiro, o número de pessoas que se tem debruçado sobre o valor terapêutico da dança e na descoberta de si próprias através do movimento, tem vindo a crescer (Fischman, 2001). O interesse tanto pela DMT como pelos seus fundamentos, objetivos e efeitos aumentou exponencialmente nas últimas décadas, principalmente entre finais do século XX e meados do século XXI, coexistindo com à criação da ADTA.

Autores como Ritter e Low (1996 cit. in Koch, Kunz, Lykou & Cruz, 2014) vieram demonstrar que a DMT é uma intervenção eficaz para diferentes sintomas, em particular na diminuição da ansiedade e para diferentes grupos de indivíduos de diversas faixas etárias. Estes resultados são inferiores aos encontrados por Cruz e Sabers (1998 cit. in Koch, Kunz, Lykou & Cruz, 2014) que consideram que os efeitos positivos da DMT são comparáveis com os de outras terapias (e.g., farmacológicas, psicoterapias verbais). Em Portugal, num estudo realizado no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa durante 4 anos, verificou-se que na maioria da população em estudo (99%) a DMT contribuiu para uma diminuição do nível de ansiedade, melhoria no relacionamento intra e interpessoal, bem como para um aumento da sua autoconfiança (Vieira, 2008).

A DMT é considerada por diversos autores uma intervenção eficaz para várias patologias, nomeadamente: ansiedade, autismo (crianças e adultos), fibrose cística, depressão (tanto em adolescentes como em idosos), cancro da mama, demência, perturbação somatoforme, stress, distúrbios alimentares, fibromialgia, artrite reumatoide, psicose e esquizofrenia (Bräuninger, 2014; Koch, Kunz, Lykou & Cruz, 2013; Rodríguez, 2011). Esta parece ainda contribuir para retardar o começo da doença de Alzheimer, bem como estabilizar funções cognitivas, processos de recuperação da memória e habilidades de linguagem nestes doentes. Nos indivíduos com doença de Parkinson existem evidências de que a DMT contribui para um melhor equilíbrio e coordenação (Bräuninger, 2014). Autores acrescentam ainda que a DMT contribui para a melhoria da qualidade de vida, bem-estar, humor, afeto, perceção de imagem corporal e competência interpessoal (Bräuninger, 2014; Koch, Kunz, Lykou & Cruz, 2013).

De acordo com Painado e Muzel (2012) quem pratica DMT regularmente estimula as suas potencialidades que, apesar de as ter, não tem consciência de que as possui. Assim, como recurso complementar esta vem não só desenvolver a consciência do corpo, como também dar a conhecer as suas potencialidades e limites.

Apesar de ao longo dos anos, o número de investigações referentes à DMT terem vindo a aumentar, verifica-se que a maior parte destas são de caráter qualitativo sendo essencialmente estudos de caso, o que possivelmente se justifica pela natureza das terapias unidas à arte que enfatizam a criatividade e formas subjetivas do saber (Koch, Kunz, Lykou & Cruz, 2014; Ritter & Graff, 1996).

Para Cochrane Reviews (2009 cit. in Koch, Kunz, Lykou & Cruz, 2014) é fulcral melhorar os desenhos de pesquisa da DMT. Assim, sendo a pesquisa baseada em evidências importantes como a garantia de que a DMT e o uso terapêutico da dança enquanto intervenções eficazes para problemas de saúde mental, a demonstração empírica da eficácia da DMT é essencial para a promover, bem como para a sua sobrevivência enquanto profissão (Koch, Kunz, Lykou & Cruz, 2014).

A DMT ALIADA À NEUROCIÊNCIA: OS NEURÓNIOS ESPELHO

De acordo com Ramachandran (2003, cit. in Rodríguez, 2011) existe uma discussão ainda muito arraigada relativamente à existência ou não de conexão entre arte e ciência. Assim, tendo a arte a sua origem no cérebro, o mesmo autor considera que deveria ser possível afirmar que os avanços conseguidos ao longo dos anos relativamente à compreensão da base neurológica dos fenómenos psicológicos (e.g., imagem corporal, perceção visual), também se deveriam empregar a esta. Nesta linha, ao se compreender algumas ligações no cérebro, ir-se-ia progressivamente unir arte e ciência, sendo neste ponto que surge a DMT. Deste modo, as últimas investigações realizadas no âmbito da neurologia e da psicologia cognitiva, bem como os progressos realizados na compreensão dos mecanismos que possibilitam estudar e examinar as funções cerebrais, têm vindo a contribuir para amplificar o leque de possibilidades para o estudo da própria DMT (Rodríguez, 2011).

Das investigações realizadas convém referir as que se