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O espelho por trás da dança movimento terapia

focalizaram nos neurónios-espelho que se encontram implicados na técnica de “Espelhamento” de Marian Chace que, dadas as suas implicações psicoterapêuticas, são de enorme relevância clínica para a DMT (Berrol, 2006; Rodríguez, 2011).

Os neurónios-espelho foram relatados pela primeira vez num estudo efetuado em Itália na década de 90 por Rizzolatti e colaboradores, que conduziu à descoberta da sua existência no lobo frontal de macacos. Estes investigadores verificaram que o conjunto de neurónios que era ativado quando o macaco realizava determinado movimento, era também ativado quando viam uma pessoa ou outro macaco a fazê-lo (Berrol,2006; Hari & Kujala, 2009). Desta forma, foi possível concluir que o neurónio deste macaco copiava o comportamento da outra pessoa como se ele próprio o estivesse a produzir (Hari & Kujala, 2009).

Transpondo a descoberta supracitada para os seres humanos, estes neurónios seriam responsáveis por levar uma pessoa a produzir um “espelhamento” do comportamento de outra pessoa, de forma inconsciente. Nesta linha, obter-se-ia então, uma imagem como se fosse um reflexo num espelho (Hari & Kujala, 2009). Assim, atuando enquanto feedbacks baseados na experiência, as descargas neuronais deixam de ser provocadas pelo raciocínio, passando a ser despoletadas por uma simulação direta dos acontecimentos observados através do mecanismo de espelho (Berrol, 2006).

Posteriormente, e após diversos estudos, foi possível concluir que o sistema de espelho do ser humano parece estar diretamente envolvido na obtenção de habilidades sociais, bem como na aptidão para perceber e antecipar tanto as emoções como as intenções dos outros, e ainda na empatia (Rodríguez, 2011).

As áreas fundamentais do Sistema dos Neurónios-Espelho (SNE) são a região da Broca (córtex frontal inferior esquerdo) e o córtex pré-motor ventral, no entanto o lobo parietal também demonstrou funções semelhantes. Estas áreas servem como uma interface entre ação e perceção (Hari & Kujala, 2009).

A região da Broca no hemisfério esquerdo, classicamente contribui para a produção da fala e permite fazer planos, observar, entender e imitar. Além disso, sugere-se que contém os “verdadeiros neurónios espelho” na sua porção dorsal (Hari & Kujala, 2009).

Apesar de não terem verdadeiras propriedades de neurónios-espelho (visto que só são ativados quando observamos o movimento de outra pessoa e não quando realizamos o mesmo movimento), os sulcos temporais superiores posteriores (STSp) e o lobo parietal inferior (IPL) contribuem para o SNE. O IPL acomoda informação motora e cinestésica com inputs visuais, auditivos e somatosensoriais. A região STSp responde a faces, assim como a uma variedade de ações vistas ou ouvidas que são produzidas por outra pessoa, incluindo o som dos passos (Hari & Kujala, 2009).

Adicionalmente, o SNE é modelado pela ínsula e pelo sistema límbico durante a imitação social, o que permite realizar mecanismos cerebrais de empatia (Hari & Kujala, 2009).

A descoberta dos neurónios-espelho veio transformar drasticamente o ponto de vista neurofisiológico tradicional relativamente ao sistema motor enquanto autor exclusivo dos movimentos (Hari & Kujala, 2009). Deste modo, a neurologia vem confirmar o que se aplica na DMT aquando da utilização da técnica do “Espelhamento”, visto que o sistema de espelho opera como um meio de ligação entre dois cérebros permitindo a sua conexão e união a diferentes níveis. Assim, a revisão da literatura aponta para que a expressão emocional, o desenvolvimento da imagem corporal e ainda a empatia, claramente danificadas em alguns indivíduos, podem ser explicadas a partir de uma base neurológica e trabalhadas ​​dentro de um processo terapêutico em DMT (Rodríguez, 2011).

Sendo que ver o movimento de outra pessoa ativa o sistema motor do observador, porque será que um observador saudável não se movimenta durante a observação? Isto acontece, aparentemente, devido à ativação neuronal induzida pela observação ser mais fraca do que a ativação neuronal aquando da realização do movimento. Contudo, também existe uma inibição ativa da ação motora pelos lobos frontais médio e lateral em observadores saudáveis, o que também explica este facto (Hari & Kujala, 2009).

Consoante o objetivo final, as ações de outra pessoa podem afetar ativamente os padrões motores do observador de uma forma completamente automática, permitindo assim conseguir fazer uma simples imitação (como ocorre nas aulas de aeróbica), ou mesmo acompanhar, de forma complementar, os movimentos de outra pessoa (como nas aulas de dança a par) (Hari & Kujala, 2009).

De referir que, de modo a se compreender melhor os fenómenos supramencionados, é essencial efetuarem-se mais investigações alusivas ao cérebro, bem como ao seu funcionamento (Ritter & Graff, 1996; Rodríguez, 2011). Contudo, de acordo com Rodríguez (2011) o caminho a percorrer é aquele em que a mente e corpo vão lado-a-lado.

O QUE É PRECISO PARA SE SER UM TERAPEUTA DE DMT

Para se ser um terapeuta de DMT é necessário que a pessoa seja licenciada em DMT e possua um amplo conhecimento relativamente a: teoria e história da DMT, processos teóricos e experimentais de criação artística, psicopatologia, dinâmica de grupo, psicoterapia e psicologia dinâmica geral, teorias psicológicas do desenvolvimento do movimento, técnicas de observação e expressão do movimento e teorias psicológicas do desenvolvimento (Cigaran, 2009).

Além disso, deve ter experimentado no mínimo dois anos de psicoterapia individual (1h semanal mínima e iniciada durante a própria formação) e pelo menos 600-700 horas de prática