filósofos defendiam, o chamado monismo. Para os monistas, o corpo e a mente são duas palavras para descrever a mesma coisa (Kolb & Whishaw, 2003).
Mais tarde Luigi Galvani (1737 – 1798) ficaria famoso pelos seus estudos sobre a actividade eléctrica em nervos de rãs, que serviram para erradicar antigos termos usados, como ‘entidades espirituais’ ou ‘fluídos’ (Maia et al., 2007).
Embora tenhamos já registado várias oposições entre as concepções acerca do cérebro e das suas funções, apenas no século XIX se verificaria a primeira grande teoria relativa ao funcionamento da mente: a Frenologia. Esta foi criada por Franz Joseph Gall (1758 – 1828), médico anatomista alemão, consistindo na organização do cérebro em trinta e cinco funções, que correspondiam a áreas cerebrais específicas. Esta visão materialista da mente persistiu durante vários anos, até que começaram a surgir teorias com base empírica que demonstravam que a teoria de Gall não era tão precisa quanto aparentava (Gazzaniga & Heatherton, 2002).
Entretanto, o cirurgião francês Pierre Paul Broca (1824 – 1880) examinou um paciente que tinha sofrido um enfarte; o paciente conseguia compreender a linguagem, porém, era incapaz de falar fluentemente, tendo ficado conhecido como “Tan Tan”, sendo que era esta a única palavra que conseguia verbalizar. A área cerebral danificada era o lado esquerdo do lobo frontal, mais precisamente, aquilo que viria a designar-se de área 44 de Brodmann ou área de Broca (Gazzaniga & Heatherton, 2002). Esta descoberta teve um impacto enorme dentro da comunidade científica. Através das suas investigações, Broca descreveu esta condição como afasia, ou seja, a incapacidade de falar, devido à lesão naquela região do cérebro. Tal feito veio corroborar as teorias ‘localizacionistas’, dado que havia sido comprovado que existia uma determinada área cerebral que controlava a produção e a manutenção do discurso (Zillmer et al., 2007).
O alemão Karl Wernicke (1848 – 1905), por sua vez, atentou num caso em que o sujeito conseguia falar fluentemente mas, em contrapartida, o seu discurso não fazia sentido e o sujeito parecia, também, não compreender a linguagem escrita ou falada. Este era portador de lesão na parte posterior do hemisfério esquerdo, na área junto à junção entre os lobos temporal e parietal. A lesão nesta área ficou conhecida, posteriormente, como ‘afasia de Wernicke’. Karl Wernicke ficou também conhecido pela descoberta do chamado síndrome de Wernicke – Korsakoff, que consiste num transtorno de memória comum nas pessoas que consomem elevadas quantidades de álcool (Pinel, 2005).
O famoso caso de Phineas Gage (1823 – 1860) trouxe enorme interesse e discussão à ciência. Gage era um operário que trabalhava nos caminhos-de-ferro, na construção ferroviária de Rutland and Burlington (Nova Inglaterra), tendo a seu cargo um grande número de homens, incumbido de efectuar furos na rocha onde, posteriormente, se deitaria a pólvora, e calcar o material com uma vara de ferro, antes de se proceder à detonação. Num dia escaldante, que se tornou fatídico, a pólvora explodiu ao ser calcada, apenas por uma distração de Phineas, o que fez com que uma vara de ferro, com cerca de 90cm de altura e 3cm de espessura, perfurasse a base do seu crânio do lado esquerdo, atravessando a região frontal do cérebro, saindo pelo outro lado. Gage, apesar de ter ficado com a massa encefálica do lobo pré-frontal esquerdo quase toda destruída, nunca perdeu os sentidos, falou, manteve a coerência e ainda caminhou, tendo sido, posteriormente, transportado até a uma casa, onde foi examinado pelo médico Dr. Harlow (Damásio, 2011).
Este caso forneceu dados preciosos para a compreensão da importância dos lobos pré-frontais, especialmente ao nível comportamental, emocional e personalístico. O caso de Phineas é, verdadeiramente, significativo, pois, enquanto outros casos de lesões neurológicas, ocorridas na mesma época, revelaram que o cérebro era o alicerce da linguagem, percepção e funções motoras, e em termos gerais forneceram pormenores cientificamente conclusivos, a história de Gage sugeria um facto espantoso: havia sistemas no cérebro mais associados à razão que a qualquer outra função e associados, em particular, às dimensões pessoais e sociais da razão (Damásio, 2011). Este episódio contribuiu, indiscutivelmente, para o posterior desenvolvimento da Neuropsicologia enquanto ciência.
Mais tarde, Camillo Golgi (1843 – 1926) quando tentava, em 1875, corar as meninges, expondo uma parte de tecido neural a dicromato de potássio e a anitrato de prata, reparou em algo impressionante: a substância resultante da reacção química entre ambas as substâncias invadiu alguns neurónios das amostras de tecido e colorou-os, permitindo visualizar na íntegra todas as partes componentes de um neurónio. Tal descoberta deu a Golgi o Nobel da Medicina, em 1906 (Pinel, 2005).
Por conseguinte, Santiago Rámon y Cajal (1852 – 1934), anatomista espanhol, considerado por alguns “o pai das neurociências”, através do método desenvolvido por Golgi, começou a estudar as células do sistema nervoso, desenhando os neurónios em várias fases do seu desenvolvimento. Cajal descobriu, também, que ao contrário da visão defendida por Golgi, os neurónios eram entidades independentes – não observou qualquer tipo de conexões entre as células. Pelo que, esta teoria seria antagónica com a de Golgi, pois defendia que os neurónios estavam ligados, formando uma espécie de rede de axónios (Kolb & Whishaw, 2003; Gazzaniga & Heatherton, 2002).
Considerado o primeiro neuropsicólogo, Alexander Romanovich Luria (1902 – 1977) mudou de uma maneira profunda a forma como são encarados o cérebro, a mente e o comportamento. Luria defendia que existiam três sistemas funcionais, essenciais para qualquer tipo de actividade mental, a que ele próprio chamou de “unidades”. A primeira consistia na regulação do tónus muscular, bem como do nível de estimulação cerebral. A segunda unidade apontava as áreas posteriores do córtex, posteriormente, designadas por POT (parieto-occipito-temporal), e teria um papel fundamental na recepção, integração e processamento da informação sensorial, proveniente do exterior e do interior do organismo. Por fim, a terceira unidade, correspondia às funções executivas dos lobos frontais e pré-frontais, logo, programação e regulação da actividade mental do sujeito, assim como do seu comportamento. Este autor afirmava que todo o tipo de comportamento exigia a interacção das três unidades básicas, o que reflectiria que o cérebro funcionava como um todo mas, ao mesmo tempo, que existiam características únicas que, apenas, determinadas áreas possuíam e que, consequentemente, iriam também desempenhar um papel importante no comportamento
– pluripotencialidade (Zillmer et al., 2007).
2.