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A Neuropsicologia e o comportamento desviante

atencional (digit span), e problemas de aprendizagem a longo prazo, quando comparadas com crianças expostas a níveis consideravelmente inferiores da mesma substância.

Mater (1997): níveis mais elevados de poluição rica em chumbo e manganês encontram-se fortemente relacionados com a incidência do crime em todo o território dos EUA.

Robinson & Kelley (1998) referem ainda como factores que são apontados como potenciadores de causar afecção cerebral a presenção de complicações à nascença, tal como baixo peso do bebé, anóxia (provoca redução da oxigenação cerebral à nascença), utilização de drogas por parte da mãe durante a gestação, e abuso de substâncias durante a infância, adolescência e mesmo vida adulta.

Segundo os autores, e para finalizar, estes factores podem apresentar efeitos a longo-prazo no desenvolvimento cerebral desde a infância. Assim defendem, seria lógico olhar para a presença destes factores quando se está a avaliar a possibilidade de afecção cerebral num determinado indivíduo.

A disfunção cortical e o repertório comportamental

No que respeita à compreensão do comportamento anti-social, os lobos frontais (nomeadamente os pré-frontais) e os lobos temporais têm sido apontados como os mais relevantes para a avaliação neuropsicológica pericial.

Lesões dos Lobos Frontais

As lesões dos lobos frontais apresentam síndromes relativamente específicos, uma vez que essas mesmas lesões, como em qualquer outra parte do cérebro, tendem a produzir quadros semiológicos distintos (Damásio, 1979).

Todavia, a ideia de que a afecção dos lobos frontais seria responsável por um quadro semiológico único, uma hipotético “síndrome do lobo frontal”, põe-se hoje claramente em causa, uma vez que não se encontra suporte em investigação ou prática clínica em humanos nem em investigação animal (Damásio, 1979). Mais do que um quadro único, aquele que resulta de tal afecção apresenta uma variedade de manifestações tal que não se poderá utilizar o termo “síndrome do lobo frontal”, sendo sim necessário organizar os sinais/sintomas advenientes dessa mesma afecção num quadro fenomenológico coerente e organizador da prática interventiva subsequente (seja a reabilitação neuropsicológica, a farmacoterapia, etc.).

Os lobos frontais representam aproximadamente metade do córtex cerebral humano e apresentam conexões com importantes sistemas cerebrais como o sistema límbico subcortical, e os gânglios da base (Damásio, 1979).

O sistema límbico subcortical está fortemente implicado na vivência emocional e os gânglios da base estão fortemente implicados no controlo da motilidade. Sob regulação dos poderosos lobos frontais, nomeadamente das áreas pré-frontais o carácter de alta especialização humana em termos de actividade do sistema nervoso central ganha a sua maior evidência, enquanto possibilitadores de seres pensantes, emotivos, comportantes, e que têm ainda a capacidade de coordenar todas estas funções em busca de uma homeostasia adaptativa superior.

Grafman (1994) apresenta um resumo acerca da localização neuroanatómica funcional do córtex préfrontal.

Córtex dorso-lateral – resolução de problemas, processos racionais e lógicos (e.g. resolução de um problema de física, aprendizagem associativa, desenvolvimento de um conceito verbal)

Córtex orbitro-frontal – regulação social e interacções (e.g. comportamento sexual ou julgamento social)

Depressão tende a ocorrer mais frequentemente com afecção das áreas dorso-frontais anteriores esquerda

Ansiedade tem sido verificável após lesão das áreas orbitro-frontais direita.

Talvez o caso mais conhecido acerca da afecção comportamental e personalística em humanos, posterior a lesão cerebral, seja o do inafortunado, mas famoso Phineas Gage (Harlow, 1848, 1868). Phineas Gage foi alvo do acidente de trabalho que mais terá contribuído para o desenvolvimento científico da época. A consulta do variados endereços da internet dedicados a esta personagem permite-nos recuperar o 1º recorte de jornal a relatar o facto, o Free Soil Union (Ludlow, Vermont), de 14 de Setembro de 1848, dia a seguir ao acidente, e reproduzido no Boston Post (disponível em http://www.deakin.edu.au/hbs/GAGEPAGE/Pgstory.htm).

 “Horrible accident – As Phineas Gage, a foreman on the railroad in Cavendish, was yesterday ingaged in (…) for a blast, the powder exploded, narrying an iron instrument through his head an inch an a fourth in circunference, and three feet and eight inches in length, wich he was using at the time. The iron entered on the side of his face, shattering the upper jaw, and passing back of the left eye, and out at the top of the head.

The most singular circumstance connected with this melancholy affair is, that he was alive at two o’clock this afternoon, and in full possession of his reason, and free from pain – Ludlow, Vt., Union).”

Phineas Gage era um trabalhador dos caminhos-de-ferro que preparava o solo onde iriam assentar os carris da linha-férrea de Rutland e Burlington, Cavendish, Vermont. Em 13 de Setembro de 1848, uma das cargas explosivas que havia colocado numa cavidade no solo, explodiu sob acção de Phineas Gage (calcando-a com uma barra de ferro), tendo a barra de ferro trespassado a sua cabeça, de baixo para cima. A barra de ferro media cerca de 50 cm e pesava cerca de 13 ½ libras. O ponto cefálico de entrada do bastão localizou-se cerca de alguns centímetros abaixo do olho esquerdo (face esquerda), trespassando completamente a sua cabeça, saído pela região calvária e indo imobilizar-se cerca de 25 a 30 jardas atrás de si. Apesar do aparatoso acidente que lhe destruiu quase a totalidade da massa cefálica frontal esquerda, Gage nunca perdeu a consciência. Às mãos do Dr. Harlow (1868), a sua recuperação foi tão bem sucedida que Gage retornou a casa cerca de 10 semanas depois do fatídico acidente, tendo mesmo procurado retornar ao seu emprego alguns meses mais tarde (em meados e 1849), por sentir-se já com forças para o fazer

O que é relevante para a compreensão do papel da afecção dos lobos frontais em doentes traumatizados corticalmente é a análise comportamental e atitudinal de Gage, antes e depois do acidente.

Antes do acidente Gage era descrito pelos seus empregadores como sendo um dos seus trabalhadores mais valiosos, capazes e eficazes, bem equilibrado mentalmente e que era visto como um astuto homem de negócios. Depois do acidente, as mudanças no seu repertório comportamental e atitudinal forma tão