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O síndrome Wernicke-Korsakoff sobre o prisma da neuropsicologia

sua vida.

Desconhece se andou na escola até à 3 classe, se reprovou ou não. Todavia, no segundo momento de avaliação afirma convicto que andou na escola até ao terceiro ano, virando a cabeça para o lado em sinal de reprovação quando foi confrontado com essa informação. Aponta que aos 10 anos foi trabalhar para a serração.

Diz ter sido escriturário numa fábrica, “Escriturário. (Q) Apontava o que levam, o material. O que faltava. Escrevia. Apontava. O material” (sic). Não sabe precisar com que idade, mas pensa que depois dessa actividade foi para uma fábrica de vidro na Marinha Grande, durante pouco tempo, tendo a função de colocar vedante. Refere, sem precisar a sua função, ter trabalhado perto de Lisboa durante alguns anos numa fábrica de Margarina. Acrescenta que foi despedido dessa fábrica e regressou ao trabalho da resina, mas como o patrão não lhe pagava, abandou o emprego. Note-se que um outro colega do lar refere que nunca o viu na empresa, embora A. afirme ter trabalhado com ele.

Aprendeu a ler e a escrever por iniciativa própria em adulto, concluindo a 4ºclasse nessa altura.

Raramente aborda a questão da sua dependência alcoólica. Todavia, afirma a existência de um ambiente negativo em casa devido ao consumo de bebidas alcoólicas por parte dos seus pais. Note-se que refere com alguma imparcialidade “Eles bebiam. É normal beber. Bebiam, mas trabalhavam.” (sic). Diz ser o benjamim da família de 5 irmãos, referindo com alguma tristeza a morte de dois irmãos, um devido a hábitos etílicos, outro devido ao consumo exagerado de álcool e tabaco. Afirma que bebia na refeição e que “sozinho não bebia” (sic), indo sempre para um café beber com os amigos. Não sabe precisar a quantidade de bebida que ingeria por dia, mas mais revela que quando não bebia termia muito e vomitava um líquido amarelado. Quando volta a beber sentia-se melhor, mas sabia que assim as coisas não estavam bem. “Não tenho ninguém, mãe ou mulher para fazer-me as coisas, vim para o lar.” No entanto, de acordo com a assistente social, a principal razão deve-se aos hábitos etílicos e à falta de condições habitacionais, factos desvalorizados e negados por A.. Não sabe precisar quando é que veio para o lar, tendo a suspeita que já fez dois anos em regime de internamento. A razão de ainda estar vivo, diz, dever-se ao lar, pois se não tivesse entrado estava “com os pés juntos” (sic).

Afirma apenas ter tido conhecimento que tomava uma medicação para o alcoolismo em Dezembro de 2012, pois perguntou à enfermeira qual era a medicação que estava a fazer.

Actualmente nega o consumo de álcool, todavia contradiz-se ao dizer que “Basta um copo ou dois para tombar uma pessoa. Não estou já habituado” (sic).

Processo / Resultados de Avaliação

Observação do Comportamento

Anteriormente ao início do primeiro momento da avaliação efectuou-se uma breve explicação dos objectivos da avaliação neuropsicológica, referindo também as questões éticas e deontológicas inerentes a qualquer avaliação psicológica. Posteriormente esclareceu-se algumas questões que sugeriram a A.

Em ambos os momentos de avaliação, A. apresentou-se vestido de acordo com a sua idade e estatuto sócio-económico. A. apresentou-se desperto, relativamente atento, como capaz de obedecer a ordens verbais ou escritas simples. Transversalmente a ambas as sessões foi incapaz de seguir instruções complexas, de recordar-se das perguntas ou dos testes que foram sendo administrados

Processo / Procedimento de avaliação

Processo / Resultados de Avaliação

Exame do estado mental

Descrição geral (Trepacz & Baker, 2001): Consciente, orientado alo-psiquicamente, no espaço, embora estivesse ligeiramente desorientado no tempo e auto-psiquicamente. Idade aparente correspondente à idade cronológica. Posição, postura e vestuário normal. Higiene algo cuidada e sem dificuldade em manter contacto visual. Possui estrabismo convergente. Sem anomalias físicas bizarrias, mas com anomalia física vidente (coluna). A expressão facial é normal, contudo quando não percebe o que é pedido parece parar no tempo, ficando com os olhos muito arregalados, sugerindo a presença de bradifrenia. Apresenta um nível de actividade reduzido com alguma lentificação psicomotora, deslocando-se lentamente numa marcha ebriosa, o que revela ataxia. Não apresenta movimentos anormais. Mantém uma postura amigável, atenta, interessada e divertida. Reduzido insight para as situações do quotidiano.

Humor e afecto (Trepacz & Baker, 2001): Fala voluntariamente dos seus sentimentos, apresentando um afecto congruente ao humor.

Emoções (Trepacz & Baker, 2001): Adequa as respostas emocionais às situações que descreve, manifestando uma intensidade, mobilidade e uma reactividade normal.

Linguagem (Trepacz & Baker, 2001): Normal para indivíduos de baixa escolaridade e baixo nível socioeconómico.

Percepção (Trepacz & Baker, 2001): Nega alucinações e ilusões

Pensamentos (Trepacz & Baker, 2001): Quanto ao processo, maioritariamente é lógico e coerente, embora por vezes desagregado, sendo que o conteúdo centra-se nas doenças.

Avaliação Breve do estado Mental

Alcançou dezanove (19) pontos, um resultado que sugere defeito cognitivo (Guerreiro, 1998).

MoCA

Obteve um resultado total de treze (13) pontos. Recorrendo aos valores normativos portugueses (Freitas, Simões, Alves & Santana, 2011) e tendo por base a variável idade e anos de escolaridade (Me= 21.78; s=2.86), pode-se considerar que o examinado obteve resultados inferiores à média por aproximadamente três desvios padrão ( 3 s).

WAIS-III

No que concerne ao subteste de Composição de Objectos, Informação, Matrizes, Cubos e Memória de Dígitos, A. auferiu o resultado bruto de 0, 6, 7, 15 e 3, correspondendo ao valor padronizado de 1, 6, 9, 6 e 3, respetivamente. Todos estes resultados sugerem um desempenho inferior à média (Wechsler, 2008).

Inventário Ansiedade Geriátrica

Com catorze (14) pontos situa-se acima do ponto de corte para a população portuguesa, o que sugere a presença de sintomas de ansiedade graves (potencialmente patológicos) (Ribeiro, Paúl, Simões & Firmino, 2011).