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Doença descompressiva: aspectos fisiopatológicos e protocolo de tratamento hiperbárico

Doença descompressiva: aspectos fisiopatológicos e protocolo de tratamento hiperbárico

RESUMO

A doença descompressiva é provocada por mudanças súbitas na pressão ambiente, formando bolhas de nitrogênio nos líquidos corporais. As bolhas produzem lesão endotelial, embolização, processos compressivos e obstrutivos, com subsequente isquemia dos tecidos. O tratamento efetivo é a recompressão e descompressão gradual em câmara hiperbárica. O perfluorocarbono emulsificado é uma droga promissora que pode melhorar a terapia tradicional, pois aumenta a dissolução do nitrogênio no plasma, acelera a depuração das bolhas e reduz a mortalidade.

Doença descompressiva: aspectos fisiopatológicos e protocolo de tratamento hiperbárico

Autor: Solidonio Arruda Sobreira. Mestre (Master) em Genética.

Faculdades de Enfermagem e Medicina Nova Esperança (FACENE/FAMENE). Brasil.

Palabras clave:

En inglés: Diving. Barotrauma. Decompression Sickness. Embolism, Air. Hyperbaric Oxygenation.

En portugués: Mergulho. Barotrauma. Doença da Descompressão. Embolia aérea. Oxigenação Hiperbárica.

Palavras-chave: Mergulho. Barotrauma. Doença da Descompressão. Embolia aérea. Oxigenação Hiperbárica.

ABSTRACT

The decompression sickness is caused by abrupt changes in ambient pressure, creating nitrogen bubbles in body fluids. The bubbles produce endothelial injury, embolization, compressive and obstructive processes, with following tissue ischemia. The effective treatment is the recompression and slow decompression in hyperbaric chamber. The emulsified perfluorocarbon is a hopeful drug that may improve traditional therapy, since increases the plasmatic nitrogen dissolution; accelerate the clearance of bubbles and reduce the mortality.

Keywords: Diving. Barotrauma. Decompression Sickness. Embolism, Air. Hyperbaric Oxygenation.

INTRODUÇÃO

A doença descompressiva (DD), também chamada enfermidade de Caisson, é uma entidade clínica multisistêmica, potencialmente severa, provocada por bolhas gasosas de nitrogênio no sangue e nos tecidos. (1) Trata-se de uma emergência médica relativamente rara do mergulho subaquático. Nos Estados Unidos, sua incidência é de 1 caso para cada 5000 a 10.000 mergulhos recreativos/ano, apresentando uma mortalidade aproximada de 10%. (2)

A DD do tipo I (leve) está limitada às manifestações cutâneas, musculares e articulares, podendo ser acompanhada de linfoadenopatia (3). Não obstante, a DD do tipo II (grave) é potencialmente fatal, caracterizada pelo comprometimento neurológico, cardiopulmonar e hemodinâmico. A síndrome é definida por disfunções motoras (paralisias), sensitivas (parestesias, distúrbios visuais), alterações das funções cerebrais (amnésia, comportamento bizarro, mudanças de personalidade, convulsão, ataxia, tremores, inconsciência), lesões cocleares e vestibulares (zumbidos, surdez, vertigem, náuseas) e congestão da circulação pulmonar (dor torácica, dispneia, taquipneia, tosse). (3,4) O diagnóstico é majoritariamente clínico, sendo sugerido pela história recente de mergulho (1,3).

O equipamento SCUBA (self-contained underwater breathing apparatus) fez do mergulho uma atividade recreativa bastante prevalente. Por esta razão, todos os médicos devem estar cientes dos riscos associados à pressão barométrica elevada. O número de publicações sobre a DD, incluindo artigos originais, é relativamente escasso. Trata-se de uma desordem dificilmente contemplada pelos currículos médicos. Na maioria das vezes, encontra-se ausente da formação acadêmica e da atualização profissional. Como resultado, impõe-se a necessidade de um melhor entendimento sobre o tema, principalmente nos locais onde a prática de mergulho é frequente. O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão da literatura sobre os fundamentos fisiopatológicos e tratamento da DD, particularmente aquela associada ao mergulho subaquático.

MATERIAL E MÉTODO

O presente trabalho de revisão realizou um levantamento bibliográfico de publicações sobre a fisiopatologia e tratamento da DD, dando ênfase aos estudos nos quais o microembolismo é secundário ao mergulho.

Foram examinados livros-texto especializados e protocolos terapêuticos oficiais divulgados por instituições governamentais e centros de referência. A pesquisa também contemplou trabalhos de livre acesso publicados por autores corporativos em sites especializados. Ademais, foi realizada uma busca na base de dados PubMed, pesquisando-se artigos sobre a eficácia do perfluorocarbono no tratamento da DD. Foram consultados trabalhos em língua inglesa, espanhola e portuguesa. Referências com data de publicação anterior ao ano de 1990 foram desconsideradas desta revisão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os princípios biofísicos da DD estão bem documentados na literatura, e muitos dos seus fundamentos foram encontrados nas referências consultadas. A pressão absoluta ambiente aumenta 1atm para cada 10m de profundidade na água. (5,6) Durante o mergulho, o aumento da pressão absoluta produz um crescimento das pressões parciais dos gases inspirados. (4,6,7,8) Estes gases, de acordo com a lei de Boyle, são comprimidos em volumes cada vez menores, na medida em que a imersão progride. Ademais, a pressão subaquática sobre o tórax comprime os pulmões. Para evitar o próprio colapso, os pulmões impõem uma pressão interna igualmente alta. Com efeito, o sangue dos capilares pulmonares é exposto a pressões alveolares extremamente elevadas. (6)

A lei de Henry estabelece que a quantidade de um gás dissolvida em um meio líquido é diretamente proporcional à pressão parcial do gás sobre o líquido. (1,4,8,9) Normalmente, parte dos gases inspirados se difunde para o sangue pulmonar, sendo transportada para os tecidos dissolvida na água do plasma. (5,6) Não obstante, durante o mergulho, devido ao crescimento das pressões nos alvéolos, há uma maior dissolução destes gases nos líquidos corporais. (4,6) Por esta razão, o mergulhador é submetido a um estado de hiperóxia e hipernitrogenização dos tecidos, diretamente proporcional à profundidade alcançada. Dentre os gases dissolvidos (incluindo oxigênio e gás carbônico), aquele que está mais implicado na