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Obesidade e psicopatologia. Um estudo de caso – controlo

Quadro 8: Resultados da SCL-90

obesidade_psicopatologia/sintomas_psicopatologicos_obesas

obesidade_psicopatologia/ansiedade_hostilidade_fobia

Pontuações do instrumento Inventário Clínico de Auto-Conceito

Nos resultados Inventário Clínico de Auto-conceito (quadro 9) a população obesa 68,8% (N = 22) apresentou um baixo auto-conceito comparativamente com 28,1% (N =9) na população normativa. Por sua vez, 28,1% (N =9) das mulheres obesas apresentaram um elevado auto-conceito comparativamente com 68,8% (N = 22) da população normativa.

Quadro 9: Resultados do Inventário Clínico de Auto-Conceito

obesidade_psicopatologia/autoconceito_total_obesas

No que se refere à aceitação/rejeição social as mulheres obesas oscilam entre a baixa aceitação – rejeição social (50%, N=16) e elevada aceitação – rejeição social (50%, N=16), sendo que a população normativa maioritariamente (87,5%, N=28) apresenta elevada aceitação – rejeição social.

Face à baixa eficácia, a maioria (71,9%, N=23) da população obesa considera que tem uma baixa auto-eficácia em contraste com 93,8% (N=30) da população normativa que se encontra dividida com igual percentagem entre uma baixa auto-eficácia e uma elevada auto-eficácia.

No caso da maturidade psicológica e auto-afirmação a maioria das mulheres obesas (46,9%, N=15) e a maioria das mulheres normativas (62,5%, N=20) consideram que têm uma elevada maturidade psicológica e auto-afirmação.

Por último, na impulsividade e actividade a maioria das mulheres obesas (75%, N=24) considera que tem baixa impulsividade e actividade, contrariando a maioria das mulheres normativas (56,2%, N=18) que referem ter elevada impulsividade e actividade.

Diferenças de médias entre instrumentos

Tendo como base as análises Teste – T verificaram-se diferenças estatísticas bastante significativas (quadro 10) no que se refere à sintomatologia depressiva (IACLIDE) (t = 6,705; p <0,05; p = 0,000), sintomas biológicos (IACLIDE) (t = 7,429; p <0,05; p = 0,000), sintomas cognitivos (IACLIDE) (t = 6,107; p <0,05; p = 0,000), sintomas interpessoais (t = 4,026; p <0,05; p = 0,000), sintomas desempenho de tarefa (IACLIDE) (t = 5,192; p <0,05; p = 0,000), incapacidade para a vida em geral (t = 6,264; p <0,05; p = 0,000), incapacidade para a vida social (t = 6,421; p <0,05; p = 0,000), incapacidade para a vida familiar (t = 5,246; p <0,05; p = 0,000) e auto-estima (t = – 5,735; p <0,05; p = 0,000).

Por sua vez, no que se refere ao SCL-90 também se apuraram diferenças estatísticas bastante significativas (quadro 8) nos factores somatização (t = 6,029; p <0,05; p = 0,000); obsessão (t = 6,365; p <0,05; p = 0,000); sensibilidade interpessoal (t = 7,857; p <0,05; p = 0,000); depressão (t = 8,033; p <0,05; p = 0,000); ansiedade (t = 7,786; p <0,05; p = 0,000); hostilidade (t = 7,360; p <0,05; p = 0,000); ansiedade fóbica (t = 4,945; p <0,05; p = 0,000); ideação paranóide (t = 6,608; p <0,05; p = 0,000); e psicoticismo (t = 6,554; p <0,05; p = 0,000).

No que se refere ao Inventário Clínico de Auto-Conceito constataram-se diferenças estatísticas bastante significativas no total (t = – 4,122;p <0,05; p = 0,000) e na aceitação – rejeição social (t = – 3530; p <0,05; p = 0,001). Não existindo diferenças estatísticas significativas no que concerne à auto-eficácia, maturidade psicológica – auto-afirmação e impulsividade e actividade.

No que se refere ao Inventário Clínico de Auto-Conceito constataram-se diferenças estatísticas bastante significativas no total (t = – 4,122;p <0,05; p = 0,000) e na aceitação – rejeição social (t = – 3530; p <0,05; p = 0,001). Não existindo diferenças estatísticas significativas no que concerne à auto-eficácia, maturidade psicológica – auto-afirmação e impulsividade e actividade.

Portanto todas as dimensões que não foram anteriormente referidas apresentam diferenças estatisticamente significativas.

Quadro 10: Médias, desvios padrões e diferenças de médias entre os vários instrumentos nas duas populações em estudo.

obesidade_psicopatologia/medias_desvios_padroes

Discussão dos Resultados

Neste estudo o principal objectivo era verificar se existiam diferenças estatisticamente significativas nos indicadores de sintomatologia depressiva, na auto-estima, no auto-conceito e nos sintomas psicopatológicos entre a população obesa e a população normativa.

Deste modo, constatou-se que a população obesa no que respeita à sintomatologia depressiva apresentou maior incidência da mesma, sendo que 28,1% (N = 9) das mulheres obesas apresentaram valores indicadores de sintomatologia depressiva moderada (as mulheres obesas têm uma dificuldade considerável em continuar com as suas actividades sociais, de trabalho ou domésticas) e 50% (N=16) das mulheres obesas sintomatologia depressiva leve e grave (as mulheres obesas sentem-se incapazes, a não ser de forma muito limitada, em continuar com as suas actividades sociais, de trabalho ou domésticas) com metade da percentagem para cada intervalo. Por sua vez a maioria (87,5%, N=28) da população normativa não apresenta valores indicadores de sintomatologia depressiva.

No que se refere aos sintomas biológicos, os mesmos são clinicamente significativos nas mulheres obesas (59,4%, N=19) em comparação com as mulheres normativas (3,1%, N=1). Deste modo as mulheres obesas apresentam dificuldades ao nível da retenção da informação, concentração bem como em adormecer e ter um sono reparador, acabando por acordando várias vezes durante a noite. Ao nível dos sintomas cognitivos, interpessoais e desempenho da tarefa ambas as populações apresentam sintomas normativos. Verificamos que há diferenças estatisticamente significativas entre os indicadores de maior incidência de sintomas clinicamente significativos causados pela depressão nas mulheres obesas comparativamente com as mulheres normativas da amostra, uma vez que somente os sintomas biológicos são clinicamente significativos nas mulheres obesas, estando os sintomas cognitivos, interpessoais e de desempenho da tarefa normativos em ambas as populações.

Ao nível das incapacidades, constatamos que para a vida em geral a maioria de ambas as populações se encontra maioritariamente de modo algum incapacitada, sendo que para o trabalho a maioria (46,9%, N=15) população obesa manifesta-se ligeiramente incapacitada no que respeita à fatigabilidade no desempenho de tarefas, sendo que a população normativa se encontra de modo algum incapacitada. Na incapacidade para a vida social a maioria da população normativa (37,5%, N=12) encontra-se mais uma vez de modo algum incapacitado contrastando com a maioria da população obesa (37,5%, N=12) que se encontra moderadamente incapacitada. Por fim na incapacidade para a vida familiar a maioria (37,5%, N=12) da população obesa manifesta se de modo algum incapacitada, o mesmo acontece com a maioria (93,8%, N=30) da população normativa. Há também diferenças estatisticamente significativas entre os indicadores de maior incidência de incapacidades causadas pela incidência da depressão nas mulheres obesas comparativamente com as mulheres normativas da amostra), uma vez que as mulheres obesas só se encontram incapacitadas para o trabalho e para a vida social.

A maior incidência de sintomatologia depressiva e o aumento de incapacidades nas mulheres obesas pode dever-se ao facto desta população apresentar um estado de saúde debilitado que faz com que experienciem uma diminuição do bom humor, alterações do sono, comprometimento da memória e concentração bem como anedonia e sensações de falta de esperança (Karlsson, Sjostrom & Sullivan, 1993; Silva et al., 2006).

Segundo Cardoso (1998) o papel da mulher obriga-a a responder às necessidades dos outros e é talvez esta vulnerabilidade feminina responsável por parte substancial do seu stress psicológico. Deste modo, as mulheres não são só sensíveis em relação a elas, mas também em relação a tudo o que as rodeia. Freudenberg (1997) refere que as mulheres são mais susceptíveis ao síndrome de Burnout e por sua vez mais susceptíveis à sintomatologia depressiva, já que terão de enfrentar a uma variedade de tarefas domésticas e familiares complementares ao seu trabalho. Assim, as mulheres mais do que os homens são afectadas emocionalmente pelas suas experiências de elevado stress mas também pelas experiências dos outros.

Os estudos epidemiológicos para além de terem demonstrado que a depressão é duas vezes mais comum na mulher do que no homem, também evidenciaram, haver diferença na sua manifestação e curso. Outros estudos epidemiológicos, levados a cabo nos Estados Unidos por Kornstein (1997) demonstraram que ao longo da vida, a depressão na mulher é de 21,3% enquanto nos homens é de 12,7%.

Segundo Russel (1997) as mulheres têm um risco de desenvolver depressão de 20% a 25% e são mais afectadas que os homens, que têm um risco durante a vida de 7% a 12%.

Verificámos diferenças significativas na incidência de maiores indicadores de sintomatologia depressiva nas mulheres obesas comparativamente com as mulheres normativas da amostra, e tal é corroborado pelo estudo de Tosetto & Júnior (2008) que comparam mulheres sedentárias e não sedentárias no que respeita à obesidade, sintomas de depressão, ansiedade e desesperança, que verificaram a presença de níveis maiores de depressão em pacientes obesas.

Por sua vez, no que respeita à auto-estima verificou-se que a população obesa apresenta maioritariamente valores indicadores de baixa auto-estima (68,8%, N = 22), sendo que na população normativa maioritariamente apresenta valores indicadores de média auto-estima (75%, N = 24). Assim as mulheres obesas avaliam negativamente as suas qualidades e os seus desempenhos, expressando desaprovação de si mesmas e considerando-se inadequadas. Estes resultados podem ser explicados pela alteração da imagem corporal provocada pelo aumento de peso que poderá levar a uma desvalorização da auto-imagem e do auto-conceito, nas mulheres obesas, diminuindo a sua auto-estima e auto-confiança (Bernardi, Cichelero & Vitolo, 2005), e por sentirem a discriminação e os preconceitos na sua vida académica, social e profissional (Goldsmith et al., 1992; Maddi et al., 1997).

Podemos assim compreender que a auto-estima da mulher ocidental reflecte o efeito de uma forte influência social agindo como fonte de possíveis desajustamentos ou de conflitos interpessoais, com repercussões na sua imagem corporal e na sua saúde mental. Níveis baixos de auto-estima podem conduzir a patologias diversas, comprometendo a qualidade de vida, além de interferir nos níveis de satisfação com a vida (Alfermann & Stoll, 2000).

No que se refere ao auto-conceito, através da análise dos resultados confirmámos as diferenças estatísticamente significativas entre a incidência de indicadores de menor auto-conceito das mulheres obesas comparativamente com as mulheres normativas da amostra, uma vez que 68,8% (N = 22) das mulheres da população obesa apresentaram valores indicadores de baixo auto-conceito, enquanto na população normativa, as mulheres apresentaram maioritariamente valores indicadores de um elevado auto-conceito (68,8%, N = 22). Assim as mulheres obesas oscilam entre a baixa aceitação – rejeição social (50%, N=16) e elevada aceitação – rejeição social (50%, N=16), sendo que a população normativa apresenta maioritariamente (87,5%, N=28) elevada aceitação – rejeição social. Assim percebemos que a população obesa considera que não passa uma boa imagem aos outros uma vez que tem um consequente feedback negativo daquilo que transmite.

Por sua vez a maioria (71,9%, N=23) da população obesa considera que tem uma baixa auto-eficácia em contraste com 93,8% da população normativa que se encontra dividida com igual percentagem entre uma baixa auto-eficácia e uma elevada auto-eficácia. Assim quer a população obesa quer a normativa têm uma percepção negativa do seu desempenho nas várias situações.

No caso da maturidade psicológica e auto-afirmação a maioria das mulheres obesas (46,9%, N=15) e a maioria das mulheres normativas (62,5%, N=20) consideram que têm uma elevada maturidade psicológica e auto-afirmação. Na impulsividade e actividade a maioria das mulheres obesas (75%, N=24) considera que tem baixa impulsividade e actividade, contrariando a maioria das mulheres normativas (56,2%, N=18) que referem ter elevada impulsividade e actividade.

As mulheres obesas têm tendência a distorcer o seu tamanho corporal, a serem mais insatisfeitas, preocupadas com sua aparência pessoal bem como apresentarem falta de confiança em si mesmas e dificuldades em expressar de forma simbólica a sua imagem corporal influenciando assim negativamente o seu auto-conceito (Cordas & Ascencio, 2006; Almeida, Loureiro e Santos, 2002).

Assim as reacções e atitudes da sociedade em relação à obesidade reflectem-se nas reacções e atitudes das pessoas obesas, que tendem a fazer auto-declarações depreciativas em relação a si próprios e a apresentarem um auto-conceito comprometido (Barlow, 1999).

No SCL-90 verificou-se no factor somatização que a maioria das mulheres obesas apresentaram valores indicadores de elevada sintomatologia somática (87,5%, N = 28), enquanto na população normativa 56,2% (N = 18) apresentaram valores indicadores de baixa sintomatologia somática. Tais resultados estão associados a um aumento da incidência de alterações endocrinológicas, artrite de mãos e joelhos, doenças de vesícula biliar, apneia do sono, alterações dos lipídeos sanguíneos, alterações da coagulação, alguns tipos de neoplasias, dor na coluna lombar, joelho e tornozelo/pé (Bray, 1996; Bjorntorp, 1998;). Lecerf (1996) do Serviço de Nutrição da Universidade de Lille (França), fizeram uma avaliação de todo o país, ou seja, 18 102 pacientes com índice de massa corporal IMC> 25 kg/m2, sendo 66,8% mulheres e 33,2% homens, com idade média de 48,0 anos (variando de 34 a 62 anos) e IMC médio de 34,6 (variando de 28,5 a 40,7), sem diferenças acentuadas entre os dois sexos. As queixas mais frequentes eram dor na coluna (44,6%), hipertensão (44,2%), colesterol alto (39,9%), artrose no joelho (30,8%), edema nas pernas (24,3%), suores exagerados (23,8%), micose nas dobras da pele (22,8%) e diabetes (21,6%).