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Intervenção Neuropsicológica e Tumor Cerebral

pacientes recorrem à ajuda médica (Bunyaratavej et al., 2010).

Avaliação e diagnóstico

Para a definição do diagnóstico de neoplasia cerebral são necessários um conjunto de informações, podendo ser utilizadas um conjundo de técnicas morfológicas, imunohistoquímicas e de biologia molecular para identificar o tipo e grau do tumor (Bunyaratavej et al., 2010). Um dos critérios importantes no estabelecimento do diagnóstico é grau de anaplasia, ou seja, o modo pelo qual as células tumorais crescem com a perda da forma ou a estrutura normal, indicando assim o potencial de crescimento de um tumor (Mastrangelo et al., 2010).

Também a informação referente à morfologia anterior à doença, à morfologia da doença parecem ser relevantes, da mesma forma que a informação clínica do doente referente ao historial clínico relevante, localização da lesão, recursos de neuroimagem e sintomatologia apresentada (Flowers, 2000).

O exame mais utilizado para a detecção de tumores cerebrais é a ressonância magnética nuclear (RMN), captando imagens que permitem uma visualização tri-dimensional do tumor. Outro exame bastante utilizado é a tomografia axial computadorizada (TAC), que permite uma observação dos tecidos moles, estrutura óssea e vasos sanguíneos (Flowers, 2000; Mastrangelo et al., 2010).

A biopsia é o único método de diagnóstico que permite o diagnóstico definitivo, consistindo num processo cirúrgico no qual é retirada uma amostra tecidual do local do tumor para posterior exame. Por norma é efectuada durante uma craniotomia, podendo também ser realizada através de uma agulha de biopsia, quando a cirurgia não é aconselhada ou possível (Agarwal et al., 2012; Louis et al., 2007).

Todo este processo de avaliação não deixa de valorizar as provas do exame neuropsicológico com um elemento de diagnóstico, uma vez que tendem a existir alguns défices neurológicos associados às diferentes áreas cerebrais que possam estar afectadas (Agarwal et al., 2012; Louis et al., 2007; Ferro & Pimentel, 2006). Desta forma a avaliação neuropsicológica, recorrendo a provas específicas a cada área funcional e anatómica, tem o objectivo de confirmar a suspeita diagnóstica, diferenciar aspectos focais e difusos, perceber os défices, as redes funcionais afetadas e intactas, perceber o grau de deteriorização, avaliar o grau de impato na vida diária e estruturar o programa de intervenção, reabilitação e reintegração dos pacientes (Domingues & Calado, 2014).

Intervenção neuropsicológica

A possibilidade ou tempo de sobrevivência está normalmente relacionada com múltiplos factores como a idade do paciente, o tipo de tumor e a sua localização, tipo de tratamento e ainda com a condição física do doente no momento do diagnóstico (Domingos, 1997). É extremamente difícil no entanto definir um prognóstico, sendo o tumor cerebral bastante imprevisível e uma vez que ainda que seja bem circunscrito é possível que venha a reincidir (Unal et al., 2008 cit in Domingues & Calado, 2014).

O tratamento vai também depender de vários aspectos como as características idiossincráticas, o histórico e a condição funcional do doente, e também a localização e extensão do tumor e o número de metásteses. Por norma, o tratamento para os tumores cerebrais passa pela cirurgia, seguida de radioterapia e de quimioterapia, dependentemente da susceptibilidade do tumor aos fármacos (Caroli et al., 2004 cit in Domingues & Calado, 2014).

A cirurgia, comummente denominada de ressecção completa ou total é a primeira metodologia a que se recorre com o objectivo de remover o tumor sem causar danos nas funções neurológicas (Flowers, 2000; Sino et al., 2007; Santos & Vinagre, 2006). Muitas destas cirurgias são efectuadas com o indivíduo acordado, ao mesmo tempo que se vão estimulando áreas de reacção do cérebro, de forma a garantir a funcionalidade das mesmas, no decorrer da operação (Gugino, Aglio & Raymond, 2001 cit in Santos & Vinagre, 2006), em situações de maior estímulo doloroso ou onde não há necessidade de colaboração do paciente, algumas técnicas de anestesia são aplicadas (Aglio & Gugino, 2001 cit in Santos & Vinagre, 2006).

A radioterapia utiliza raios-x de energia ou outras tipologias de radiação ionizante para travar a divisão das células tumorais, pode ser utilizada após a cirurgia para destruir células tumorais residuais e ao invés da cirurgia, atuando na paragem ou redução do crescimento de tumores, quando a operação não é possível (Sino et al., 2007). Esta técnica tem alguns efeitos secundários a curto prazo como cansaço, perda de apetite, náusea, perda de memória, reacções cutâneas e possível queda de cablo (Flowers, 2000).

A quimioterapia é o tratamento por meio de fármacos que possui um efeito tóxico nas células tumorais enquanto estas se dividem. Esta forma de tratamento é administrada por via oral ou intravenosa em ciclos que contemplam fases de tratamento, ciclos esses que dependem do tipo de fármaco utilizado (Lisboa & Teixeira, 2002). São vários os efeitos secundários da quimioterapia que atua também na divisão de células saudáveis como as erupções cutâneas, náuseas, anorexia, anemia, cansaço, tonturas, febre e infecções (Flowers, 2000). Fármacos esteróides, como a dexametasona ou a prednisona, são comummente utilizados para reduzir o edema cerebral, estas fármacos não atuam na eliminação das células tumorais mas ajudam no melhorar da condição do doente (Nahaczewski, Fowler & Hariharam, 2004).

A neuroprotecção, como estratégia terapêutica que tenta impedir ou atrasar a perda neuronal e por tanto a evolução da doença, através do uso dos canabinóides, pode também ser uma das formas de combate do tumor cerebral (Guzmán, 2004). Estudos recentes indicam que os canabinóides inibem o crescimento tumoral através de pelo menos dois mecanismos: inibição direta da sobrevivência e migração vascular das células endoteliais vasculares, diminuindo a migração e aumentando a apoptose; e inibição do crescimento e migração das células tumorais, diminuindo as factores pró-angiogénicos (i.e. factores de criação de um novo suprimento vascular tumoral) e aumentando a apoptose. Estes dois mecanismos irão por conseguinte induzir o bloqueio do processo de angiogénese e o crescimento tumoral (Guzmán, 2004; Blásquez et al., 2004).

Qualquer das medidas de tratamento pode vir a gerar complicações pelo comprometimento de estruturas cerebrais complexas por potenciar distúrbios somáticos ou neuropsiquiátricos (Liu et al., 2009). Podem também ser afectadas algumas funções cognitivas como a memória, inteligência, aprendizagem, linguagem e atenção (Santos & Vinagre, 2006).