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Intervenção Neuropsicológica e Tumor Cerebral

Quando o a neoplasia de localiza no lobo frontal a sintomatologia é inicialmente silenciosa sendo frequente a existência de alterações de personalidade, défices no juízo crítico, abulia, anormalidades na marcha, incontinência urinária e reflexos primitivos. Se pelo contrário, a neoplasia surge no lodo temporal existe a tendência para o aparecimento de crises convulsivas, distúrbios visuais e quadros de afasia (Agarwal et al., 2012; Louis et al., 2007; Ferro & Pimentel, 2006). Os tumores parietais causam por norma perda sensitiva e perceptiva, anosognosia, hemiparesia e distúrbios das capacidades visuo-espaciais. Se a massa tumoral se localiza no lobo occipital, existem por norma crises convulsivas visuais. Os tumores talâmicos causam por norma distúrbios sensitivos contralaterais, alterações cognitivas e afasias. Tumores no tronco cerebral conduzem geralmente a distúrbios nos nervos cranianos, soluços, vómitos e hemiparesia. É essencialmente na reabilitação destas áreas que cabe ao psicólogo intervir (Domingues & Calado, 2014).

A neuro-oncologia tem vindo nos últimos anos a sofrer avanços surpreendentes, relativos tanto às terapêuticas utilizadas como ao aumento de uma resposta efectiva na melhoria da qualidade de vida dos sujeitos (Gil, 2007; Siksou, 2008; Rogers, Orav & Black, 2001). Podem trabalhar-se aqui vários aspectos relacionados com os cuidados de suporte como o controlo da dor e dos sintomas e o ensino de estratégias para a minimização dos problemas emocionais (Butowski, Sneed & Chang, 2006; Liu et al., 2009).

Relativamente ao controlo da dor podem ser ensinadas pequenas estratégias que o paciente pode realizar em casa, uma dessas estratégias pode ser a exposição a temperaturas extremas, como o calor e o frio. O calor aumenta o fluxo sanguíneo e produz relaxamento muscular, aliviando a rigidez, os espasmos musculares e a inflamação localizada. A ação analgésica do frio está relacionada com a diminuição do fluxo sanguíneo e do edema, reduzindo a velocidade da condução nervosa e provocando lentificação na condução dos estímulos nocicetivos (Lisboa & Teixeira, 2002).

Existem outras formas de ensinar o paciente a lida melhor com a dor como as estratégias de automonitorização (Joyce-Moniz & Barros, 2005; Ogden, 2004), estratégias de distracção, exercícios respiratórios (Lisboa & Teixeira, 2002; Ogden, 2004) e estratégias de relaxamento progressivo (Cheung, Molassiotis & Chang, 2002).

Devido à localização específica e ao desfecho predominantemente trágico, o diagnóstico é por norma recebido pelo paciente e pela família como uma fonte de angústia (Nobrega & Pereira, 2011), despoletando em muitos pacientes alguns problemas emocionais associados que tendem a acrescentar mais sofrimento, influenciando a progressão da doença e agravando ou perturbando o tratamento médico (Nobrega & Pereira, 2011; Liu et al., 2009; Matos & Pereira, 2005).

A incidência de depressão em pacientes com tumor cerebral é bastante elevada (Rogers et al., 2001; Pelletier, Verhoef, Khatri & Hagen, 2002; Scharfetter, 2005) sendo uma das psicopatologias mais frequentes em pacientes com neoplasia cerebral, em conjunto com a ansiedade (Santos, 2010). É fundamental que o neuropsicólogo intervenha nestes processos psicopatológicos de forma a faciliar todo o processo de adaptação à doença e aos tratamentos (Liu et al., 2009).

Para além do acompanhamento dos pacientes, qualquer programa de intervenção deve incluir também algum apoio aos cuidadores sendo que estes tendem não só a cobrir todas as necessidades do doente como também a vivenciar em primeira linha todas as alterações cognitivas e personalísticas do paciente (Wideheim, Edvardsson, Pahlson & Ahlstrom, 2002). Assim por norma as principais necessidades dos cuidadores são: informação acerca dos sintomas, sobre o que esperar do prognóstico, informação referente ao tratamento e efeitos secundários, informação sobre meios para lidar com a diminuição de energia, informação acerca das necessidades psicológicas e físicas do doente, acerca das atividades que lhe serão benéficas ou não, e ainda informação prática relativa a questões de nutrição adequada, entre outras (Astudillo, Mendinueta & Granja, 2008; Alarcón & Martin, 2011).

Asssim e dada a instabilidade e imprevisibilidade característica da doença é essencial que o paciente possa, se for do seu interesse, ser acompanhado após a rescisão médica, mesmo que as variantes envolventes indiquem um bom prognóstico, permitindo assim alguma monitorização dos vários processos envolventes após a alta médica, podendo ser treinadas algumas estratégias de prevenção de recaída (Castro, 2001).

Conclusão

Sendo a doença oncológica bastante prevalente na sociedade actual e a neoplasia cerebral uma das tipologias oncológicas com consequências mais gravosas para o individuo, revela-se fundamental um estudo mais aprofundado de todos os factores que integram esta condição médica e neuropsicológica (Cassidy et al., 2002).

Neste sentido, o papel do neuropsicólogo entra em enfase em qualquer fase do processo: na fase inicial desde o momento do aparecimento dos sintomas, passando por todo o processo de avaliação, definição do diagnóstico (Flowers, 2000; Mastrangelo et al., 2010; Agarwal et al., 2012; Louis et al., 2007); na fase de adaptação à doença e de treino de estratégias para lidar com os processos emocionais adjacentes (Pelletier et al., 2002); na fase de adesão aos tratamentos (Sino et al., 2007; Santos & Vinagre, 2006), no ensino de estratégias para lidar com a dor (Lisboa & Teixeira, 2002); na reabilitação de funções afectadas pela doença e intervenção nos processos psicopatológicos (Santos & Vinagre, 2006; Domingues & Calado, 2014); e até numa fase terminal de doente (Astudillo et al., 2008).

Assim é de especial realce toda a potencialidade do neuropsicólogo, como agente imperial na relação médico-paciente, que compreendo todos os processos médicos, biológicos, neurológicos, faz uso da sua prática profissional intervindo com o paciente na facilitação de todo o processo, dando-lhe a informação que o mesmo procura, ensinando-lhe a lidar de forma mais adaptativa ao que lhe está a acontecer e ajudando-o a recuperar algumas funções cerebrais que possam ter vindo a ser afectadas pela neoplasia.

Referências Bibliográficas

Agarwal, V., Mally, R., Palande, A. & Velho, V. (2012). Cerebral astroblastoma: a case report and review of literature. Asian Journal of Neurosurgery, 7(2), 98–100.

Alarcón, W. & Martin, A. (2011). Bases para mejorar la intervención de los cuidadores en paliativos. Notas paliativas, 12, 1.

Astudillo, W., Mendinueta,