Inicio > Neurología > Avaliação neuropsicológica. Funções verbais e funções executivas > Página 2

Avaliação neuropsicológica. Funções verbais e funções executivas

pensada de acordo com o problema que o indivíduo apresenta e das suas características idiossincráticas, forças e fraquezas. Por fim, os procedimentos legais vão ao encontro dos pedidos de avaliação para determinar a possível presença de disfunção ou a sua dimensionalidade no indivíduo, que possa explicar determinados comportamentos (e.g. quesito para apurar responsabilidade criminal).

Por sua vez, Hebben e Milberg (2002) aludem que os objetivos da avaliação neuropsicológica remetem para:

1) descrição e identificação de alterações no funcionamento psicológico do indivíduo, quanto à sua presença/ausência e respetiva severidade, em que o neuropsicólogo atende ao estado funcional atual do indivíduo, às suas forças e fraquezas, para inferir qual o seu nível premórbido e qual a dimensão das alterações;

2) determinação dos correlatos biológicos dos resultados dos testes, perante os quais o neuropsicólogo tenta perceber se as alterações no nível funcional do indivíduo (verificadas através do comportamento, observação clínica, aplicação de testes) se devem a algum dano cerebral, e se sim, qual a região que está envolvida;

3) determinação da associação das alterações com doenças neurológicas, perturbações desenvolvimentais, ou condições não-neurológicas, ou seja, o neuropsicólogo procura inferir sobre a(s) etiologia(s) das alterações;

4) avaliação das alterações ao longo do tempo e desenvolvimento de um prognóstico, mediante as melhorias ou perdas na performance do indivíduo ao longo do tempo;

5) orientações para a reabilitação e/ou planeamento educacional;

6) orientações para a educação das famílias e cuidadores; e

7) implementação do tratamento e planeamento da “alta”.

O método clínico na avaliação neuropsicológica, tal como alude Siksou (2008), assenta na observação do indivíduo, na sua história de vida e do problema em questão, nos dados que são recolhidos a partir da entrevista clínica, nos testes e técnicas psicológicos e relatórios de exames do indivíduo. Maia, Correia e Leite (2009) acrescentam que este é um método hipotético-dedutivo, avaliando os fenómenos tal como são apresentados e interpretando-os de acordo com a sua forma e conteúdo. Ou seja, a avaliação neuropsicológica parte de um conjunto de inferências que o neuropsicólogo vai formulando ao longo do processo de recolha de informação ao indivíduo, testando-as devidamente.

De acordo com Bartolomé, Fernández e Ajamil (2001), apesar de ser importante a utilização de uma metodologia com protocolos específicos, a avaliação neuropsicológica deve ser pensada consoante o caso em questão. Isto é, o protocolo a utilizar implica a consideração dos próprios objetivos da avaliação, da situação e características do paciente, da seleção dos instrumentos mais adequados para o diagnóstico funcional, entre outros aspetos. Pelo que cabe ao neuropsicólogo ser competente no sentido de ter conhecimentos e experiência sobre a problemática em questão, sobre a componente biológica que pode eventualmente estar por detrás dessa problemática, que técnicas ou instrumentos existem e quais se adequam melhor ao caso, os seus procedimentos de administração, cotação e interpretação, e fundamentalmente possuir competências de entrevista clínica (dado que é uma grande fonte de informação e serve de guia para as fases seguintes de avaliação).

É então neste sentido que, no que concerne aos testes psicológicos a utilizar, o neuropsicólogo pode optar por uma bateria de testes fixa ou então por uma flexível (Siksou, 2008). Bauer (2011) indica que as diferenças entre estas duas abordagens derivam: da natureza e timing para a tomada de decisões sobre os testes a aplicar; da fidelidade dos conceitos psicométricos vs. neurológicos na conceptualização do processo de avaliação neuropsicológica e seus objetivos; da enfase nos critérios quantitativos vs. qualitativos na formulação do caso e interpretações. Já Bartolomé, Fernández e Ajamil (2001) propõem três grupos principais de instrumentos de avaliação neuropsicológica, nomeadamente os instrumentos de rastreio cognitivo (gerais e breves), baterias neuropsicológicas gerais (aprofundadas e demoradas) e testes específicos. Algumas das baterias de testes neuropsicológicos mais utilizadas são as Escalas de Inteligência de Wechsler (WISC para crianças e WAIS para adultos) e a Bateria Neuropsicológica de Luria Nebraska (Groth-Marnat, 2000; Siksou, 2008).

Quanto aos domínios da avaliação neuropsicológica, sublinha-se a avaliação das funções cognitivas, entre as quais Siksou (2008) destaca a linguagem, a memória, a atenção e consciência, as funções executivas, as funções motoras e as funções sensoriais.

Avaliação neuropsicológica das funções verbais – linguagem

2.1. Características da linguagem

A linguagem é caracterizada como uma capacidade de aprender um ou mais sistemas de símbolos verbais, utilizada pelos seres humanos. Uma disciplina que surgiu da neuropsicologia e que estuda efetivamente este tema da linguagem é a neurolinguística, que se encarrega não só de estudar o funcionamento patológico desta atividade mental mas também o funcionamento normal. No entanto, o grande alvo de estudo continua a ser no campo das patologias da linguagem, mais propriamente as afasias, que são perturbações da linguagem oral ou escrita devido a uma lesão cerebral, que segundo a literatura, ocorre no hemisfério esquerdo comprometendo as tarefas verbais (Burgio & Basso, 1997; Damasceno, 1997; Doron & Parot, 2001).

Bartolomé, Fernández e Ajamil (2001) referem que a linguagem pressupõe a existência e funcionamento de sistemas neuronais (corticais, subcorticais, diencefálicos e troncoencefálicos) e respetivas interligações através de vias de conexão (ascendentes, descendentes, interhemisféricas e intrahemisféricas). De acordo com o modelo clássico da linguagem, existe uma área frontal expressiva, denominada por área de Broca (situada na circunvolução frontal inferior do hemisfério dominante – área 44 de Brodmann), responsável pelo planeamento e execução da fala e escrita, e uma área posterior recetiva, designada por área de Wernicke (situada no segmento