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Avaliação neuropsicológica. Funções verbais e funções executivas

Segundo Peña-Casanova, Fombuena e Fullà (2005), alguns dos testes mais conhecidos e utilizados a nível mundial para avaliação das afasias são: Boston Diagnostic Aphasia Examination (BDAE), Bilingual Aphasia Test (BAT), Token Test, Boston Naming Test (BNT), Object and Action Naming Battery e Psycholinguistic Assessments of Language Processing in Aphasia (PALPA).

Designação do teste – Objetivos

BDAE – Avaliação sistemática das capacidades linguísticas em pacientes afásicos.

BAT – Avaliação das capacidades linguísticas nas várias línguas de um bilingue ou poliglota.

Token Test – Avaliação da compreensão auditiva em pacientes afásicos.

BNT – Avaliação da capacidade de denominação por confronto visual.

Object and Action Naming Battery – Avaliação de aspetos específicos da denominação em pacientes afásicos.

PALPA – Avaliação exata das capacidades linguísticas nas perturbações da linguagem.

Tabela 1. Instrumentos de avaliação de afasias. Adaptado de Peña-Casanova, Fombuena & Fullà (2005).

Em Portugal, a literatura existente para a avaliação da afasia é considerada escassa, sendo que um dos motivos remete para a dificuldade na tradução e validação dos instrumentos internacionais para a população portuguesa devido às diferenças culturais entre os países (Leal, 2003, cit in Matos, 2012) e às próprias diferenças sociodemográficas verificadas dentro de Portugal (Leal et al, 2002, cit in Matos, 2012). Posto isto, dentro do que tem sido trabalhado na ou para a população portuguesa, recorre-se a instrumentos tais como os testes de nomeação rápida (Albuquerque & Simões, 2009), a EFA – Escala de Funcionalidade para Afásicos (Leal, 2006, cit in Matos, 2012), a BAAL – Bateria de Avaliação da Afasia de Lisboa (Caldas, 1979, cit in Fontoura, 2012), a PALPA-P – Provas de Avaliação da Linguagem e da Afasia em Português (Castro et al, 2007, cit in Fontoura, 2012) e a PAL-PORT – Bateria de Avaliação Psicolinguística das Afasias e de outras Perturbações da Linguagem para a População Portuguesa (Festas et al, 2006, cit in Fontoura, 2012). A BAAL permite a identificação do tipo de afasia presente no indivíduo e dos défices nas várias modalidades da linguagem, e a classificação do grau de gravidade através da EGA – Escala de Gravidade da Afasia (Leal, 2003, cit in Santos, 2013).

III. Avaliação neuropsicológica das funções executivas

3.1. Características das funções executivas

Sbordone (2000) define as funções executivas como um processo complexo mediante o qual o indivíduo executa uma tarefa de resolução de problemas, que perdura desde a sua conceptualização até ao seu término. Isto significa que o indivíduo perceciona a existência de um problema, avalia esse problema quanto às suas condições, formula objetivos específicos para a resolução do problema, desenvolve planos com as ações a tomar para resolver o problema, avalia a eficácia desses planos, formula outros novos, compara resultados, emprega o melhor plano para a resolução do problema, termina-o e guarda-o quando o problema se resolve, voltando a utilizá-lo quando surgem problemas semelhantes. Por sua vez, Capovilla, Assef e Cozza (2007) encaram-nas como funções responsáveis pela capacidade de realizar acções de forma voluntária e organizada, mobilizando os comportamentos necessários ao objectivo dessas mesmas acções.

Quanto à sua neuroanatomia, Seruca (2013) associa as funções executivas ao córtex pré-frontal que, por sua vez faz parte do lobo frontal, e preenche aproximadamente um quarto do córtex cerebral, abrangendo as superfícies lateral, medial e inferior. O córtex pré-frontal é também chamado córtex associativo frontal, constituindo assim o nível cortical hierárquico mais elevado para a representação e execução da ação (Fuster, 2011, cit in Seruca, 2013). Em termos gerais, as funções executivas encontram-se assim fortemente ligadas aos lobos frontais (Stuss & Alexander, 2000). No entanto, parece não haver consenso na localização topográfica ou no papel único e específico destas funções, uma vez que se verificam diversas conexões com outras funções cognitivas, ou seja, pressupõem o aglomerar de diversos processos cognitivos mediante a situação apresentada (Tirapú-Ustárroz et al, 2008, cit in Seruca, 2013).

As funções executivas, tal como sugere Lezak (1995, cit in Sbordone, 2000) podem ser conceptualizadas em quatro componentes distintos, nomeadamente a volição, o planeamento, a ação intencional e o desempenho eficaz. Algumas manifestações de disfunção que se podem verificar nestes componentes são:

1) volição – sintomas de apatia/indiferença, perda de curiosidade, perda de auto-consciência, descuidos na higiene, perda de interesse em atividades anteriormente prazerosas, perda de consciência social, falta de objetivos/planos para o futuro e falta de motivação;

2) planeamento – perda do pensamento abstrato/conceptual, pensamento e comportamento desorganizados e inflexíveis, competências organizacionais e de planeamento pobres, falta de objetivos/planos para o futuro e comportamento socialmente inapropriado;

3) ação intencional – distractibilidade, perda de iniciativa, dificuldade em processar uma ou mais atividades em simultâneo, perda da capacidade para manter um conjunto de respostas cognitivas/motoras, pensamento e comportamento desorganizados, labilidade emocional, impaciência, pensamento circunstancial/tangencial, dificuldades em executar novas tarefas, hábitos de trabalho pobres e dificuldade de funcionar em situações novas ou desconhecidas;

4) desempenho eficaz – perseverações, rigidez cognitiva, incapacidade de completar tarefas, incapacidade de detetar ou retificar erros e incapacidade de utilizar planos eficazes no passado.

3.2. Principais patologias que afetam as funções executivas

A disfuncionalidade das funções executivas, de acordo com Junqué (2001), é a perturbação mais distintiva das lesões frontais. No