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Neuropsicologia: enquadramento da disciplina e suas contribuições para a Doença de Alzheimer

1998).

Os conhecimentos neuropsicológicos, por sua vez, quando acrescidos às interpretações clínicas, podem oferecer uma adequada compreensão do caso e serem utilizados para a comprovação dos comportamentos observados no dia-a-dia dos pacientes (Siri, Benaglio, Frigerio, Binetti, & Cappa, 2001). O perfil neuropsicológico é, portanto, muito importante quando se fala em doenças degenerativas, por contribuir para a diferenciação diagnóstica entre as demências frontotemporal (DFT) e os corpos de Lewy ou do tipo Alzheimer (DTA).

Considerações finais

No que diz respeito à Neuropsicologia, embora seja uma área com desenvolvimento relativamente recente, a etiologia do seu conceito fundamental, que consiste em estabelecer relação entre o cérebro e o comportamento, é antiga, e a sua

história bastante vasta, tendo vindo a ser moldada ao longo do tempo pelas ideias de muitos estudiosos, desde filósofos a anatomistas, médicos, e outros. Para Seron (1982) esta é, portanto, uma ciência de carácter interdisciplinar nas suas origens, que procura estabelecer uma relação entre os processos mentais e o funcionamento cerebral, utilizando conhecimento das neurociências, que elucidam a estrutura e o funcionamento cerebral, e da Psicologia, que expõe a organização das operações mentais e do comportamento.

Apesar do trabalho de todas estas áreas científicas, a questão do cérebro e a sua relação com o comportamento humano permanece envolta numa nuvem de dúvidas, para as quais ainda não existem respostas totalmente satisfatória. Esta ciência dedica-se, também, a estudar a expressão comportamental, emocional e social das disfunções cerebrais, os déficits em funções superiores produzidos por alterações cerebrais, as inter-relações entre cérebro e comportamento, cérebro e funções cognitivas (Luria, 1966) e de forma mais ampla, as relações entre cérebro e comportamento humano (Lezak, Howieson, & Loring, 2004).

O flagelo que é a doença de Alzheimer, entre outras que provocam demência, não existiria, se essa nuvem se dissipasse. Desta forma, posições extremas foram abandonadas, favorecendo, assim, a concepção de uma organização do sistema nervoso central em diferentes regiões especializadas funcionalmente. Essa especialização refere­se à realização de operações elementares, que viabilizam as funções mentais complexas, através de conexões em série e processamento em paralelo de diversas regiões cerebrais (Kandel, 1997).

A complexidade do funcionamento do sistema nervoso é de tal forma que se torna extremamente difícil isolar e modificar aquilo que falha, pois não se trata de “uma peça estragada” no sistema, e sim de um sem nömero de factores que, conjugados, contribuem para o desenvolvimento da doença mental. Por este motivo, é imprescindível a colaboração de várias áreas do saber -nomeadamente a neuropsicologia -mesmo que remotamente afectas ao assunto, pois todas as contribuições são mais-valias quer para a descoberta de novos factos, quer para a exclusão de conclusões erróneas (Leis, 2005).

A DA é uma doença terminal que causa deterioração geral na saúde, uma vez que é progressiva e degenerativa, atingindo o cérebro e causando perturbação da memória, do pensamento e do comportamento (Hay, 2001). O Saber, como faca de dois gumes que é, tanto pode ter usos benéficos, como maléficos, e se por um lado queremos

curar as nossas doenças, por outro não devemos almejar mudar tudo aquilo que nos é natural, como o envelhecimento. Deste modo, e segundo Cayton, Warner, e Graham. (2000), na DA é fundamental avaliar e definir o perfil cognitivo de cada paciente, para que seja possível analisar os aspectos cognitivos preservados e não preservados, adequando o tratamento proposto ao nível intelectual, cultural e social de cada paciente.

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